quarta-feira, 21 de novembro de 2012

A Condição Mecânica - Anthony Burgess

"[...] Reconheço que estou em melhores condições do que a maioria, mas não acho que tenha optado por me eximir da agonia e da ansiedade que atormentam homens e mulheres escravos de vidas que não escolheram, habitantes em comunidades que odeiam. Penso, especialmente, nos cidadãos de grandes centros comerciais e industriais - Nova York, Londres, Bombaim, a minha própria Manchester. "Você comerá seu pão com o suor do seu rosto": o Livro de Gênesis resume perfeitamente. A manutenção de uma sociedade complexa depende, cada vez mais, de trabalhos repetitivos, trabalhos sem prazer ou criatividade. As coisas que comemos, as roupas que vestimos, os lugares em que moramos tornam-se progressivamente padronizados, pois a padronização é o preço que pagamos pelos preços que podemos pagar. A vida simplesmente passa para a maioria de nós, como a hora em um despertador. Acabamos por nos acostumar com o ritmo imposto pela nossa necessidade de subsistência; em pouco tempo, passamos a gostar de nossas amarras.

Um dos slogans do superEstado no romance 1984, de George Orwell, é "Liberdade é escravidão". Uma das interpretações possíveis é a de que o fardo de tomar as próprias decisões é, para muitas pessoas, intolerável. Estar vinculado à necessidade de decidir por conta própria é ser escravo de seus próprios ímpetos. Lembro-me de quando me alistei no exército britânico, aos 22 anos. Inicialmente, me ressenti da disciplina, da remoção de até mesmo a mais ínfima liberdade (como o direito de comer quanto e o que fosse desejado e o direito de ir ao banheiro quando o próprio corpo, e não uma corneta, determinasse). Em pouco tempo, minha redução a mero mecanismo começou a me agradar, a me acalmar. Participar de um esquadrão obedecendo ordens com o restante do grupo, proibido de fazer perguntas ou questionar regulamentos - eu estava, depois de quatro anos de rigorosa vida acadêmica, em férias da necessidade de precisar escolher o tempo todo. Depois de seis anos, posso simpatizar com o civil que não gosta de tomar as próprias decisões (onde comer, em quem votar, o que usar). É mais fácil receber orientações: fume tal cigarro - 90% menos alcatrão; leia tal livro - 75 semanas na lista de best-sellers; não veja tal filme - é pseudoarte.

Talvez exista algo de positivo na submissão social, considerando que a vida dos trabalhadores tem muito pouco espaço para o individualismo: é doloroso ser um especialista em Spinoza à noite e um operário durante o dia..."

Leia o ensaio completo no Estadão.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Romney vs. Hurricane Sandy

Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. A montagem é catastrofista e claramente partidária. Mas diz aí se esse cara não é um babaca perigoso?

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